Projeto vai ampliar acesso digital em Mogi

Classificada no nível 2 de informatização, apenas um patamar acima do acesso básico e com contrastes curiosos como redes livres de wireless [Internet sem fio] nos parques, mas com muitas regiões onde o acesso a Internet ainda é inexistente, Mogi das Cruzes trabalha num projeto que busca avançar vários passos para se transformar numa Cidade plenamente digital e democratizar o acesso às tecnologias de informação e comunicação.

Nos últimos dias, representantes de empresas como a Motorola e a Zimitti, que trabalham com soluções para levar sinais de rede aos locais mais afastados e menos prováveis de conexão, estiveram reunidos com técnicos da Prefeitura para apresentar modelos de tecnologia que atendam ao que o Município pretende: ampliar a rede de acesso livre à Internet para que o máximo de serviços possa ser oferecido por meio eletrônico e propiciar a chegada do serviço digital em locais de Mogi – principalmente na zona rural - onde hoje as operadoras não tem interesse em atender, ou seja, transformar a Internet num meio acessível à população.

“Isso significará a democratização da informação e a transparência do sistema público”, ressalta Antero Rodrigues Junior, secretário-adjunto de Gestão Pública e encarregado de executar a Cidade Digital.

Produzindo verduras e flores numa propriedade do Bairro Rio Acima, o agricultor Paulo Shintate se diz prejudicado comercialmente pela falta de sinal de Internet na região entre Mogi das Cruzes e Biritiba Mirim. Afinal de contas, não consegue receber pedidos por via eletrônica como a maioria dos seus concorrentes. Da mesma forma, não pode pesquisar preços e muito menos expor seus produtos, em especial as flores, na mídia digital, a principal ferramenta hoje no competitivo mercado do agronegócio.

“Poderia comercializar muito mais se tivesse a ferramenta digital. Mas o celular aqui já é horrível de pegar, imagine a Internet?”, indaga o produtor que também apresenta atrasos nos negócios pelo fato de não conseguir emitir a nota fiscal eletrônica, para a qual depende de estar conectado com o sistema da Prefeitura Municipal. “A dificuldade é imensa porque a conexão que temos é discada, por meio do celular. Só que, além de cara, ela não é constante. Aliás, quase nunca tem sinal”, confidencia.

Não raro, Shintate tem de deixar de lado os afazeres no sítio, percorrer os 10 quilômetros que separam a propriedade da área urbana e vir para a casa do irmão, a fim de que as filhas possam acessar a Internet para os trabalhos escolares. “É uma dor de cabeça porque muitas vezes o trabalho é para o dia seguinte. Portanto, se conseguirem trazer a Internet para cá, a gente agradece muito”, ressalta Shintate.

Carlos Sakamoto é produtor de orquídeas – espécie que dá a Mogi das Cruzes o título de maior produtora nacional –,

mora numa região oposta a Shintate, no Bairro do Itapeti, mas enfrenta a mesma dificuldade: a falta de conexão digital.

“Está muito difícil usar essa ferramenta”, admite o produtor, que utiliza o sistema de rádio para acessar a Internet. Quando? Muitas vezes na madrugada, já que durante o dia o acesso é muito lento e a conexão falha muito. Contudo, mesmo de madrugada o sinal não é garantido, então, volta e meio Sakamoto vem à noite para a área central de Mogi para fazer uso da tecnologia para efetuar e agendar pagamentos, conferir e-mails e para que os filhos executem suas pesquisas escolares.

“E não é só comigo que isso acontece. Toda a redondeza aqui tem dificuldades com a Internet. Não conseguimos receber pedidos por e-mail e já temos clientes que querem a nota fiscal eletrônica, que não temos como usar”, observa.

Cidade Digital

São dificuldades como essas relatadas por Shintate e Sakamoto que a Prefeitura quer sanar com o Cidade Digital, projeto que deve ser apresentado ainda neste semestre ao prefeito Marco Bertaiolli (PSD) para começar a ser implantado na sequência, já com a definição da tecnologia que representará o melhor custo/benefício para o Município. Por enquanto, os trabalhos estão concentrados em conhecer as tecnologias e apresentar as empresas o que Mogi planeja. Reuniões técnicas têm sido realizadas, com a presença de vereadores, os quais têm auxiliado a Prefeitura sobre as demandas da população para a área digital e as regiões prioritárias. Não há definições ainda sobre o sistema que melhor se adapta a Mogi, mas o secretário-adjunto de Gestão adianta que possivelmente será um misto de fibra ótica e ondas de rádio frequência, com instalação de torres de antenas em pontos estratégicos para que o sinal chegue mesmo nas regiões mais distantes.

Na zona rural, por exemplo, devem ser definidas escolas e postos de saúde que sirvam de ponto principal para irradiar o sinal para as propriedades vizinhas. “Teremos de trabalhar, inicialmente, nas áreas mais adensadas”, informa Rodrigues Junior.

Na área urbana, onde a conexão digital já está presente, inclusive com sinal livre nos terminais de ônibus e parques, o projeto da Prefeitura também quer avançar e atender não só as pessoas que dispõem de notebooks e celulares com acesso à Internet. Por isso, alguns totens – como os do sistema de saúde que permitem agendamento de consultas – deverão ser instalados em pontos estratégicos e com múltiplas funções. Não haverá Internet para entretenimento, mas a ideia é disponibilizar o máximo de acesso aos serviços, inclusive com a função de impressão para que o contribuinte possa, por exemplo, emitir uma segunda via da conta de água. “O ideal é que as pessoas consigam fazer tudo pela Internet, acessar todos os serviços eletrônicos”, observa Junior.

“Isso é sensacional porque a acessibilidade que o sistema digital pode proporcionar em informação e conhecimento é muito grande. Estamos caminhando para uma inclusão digital e também social”, avalia Fábio Inoue, professor de Planejamento de Mídia e Marketing Digital da Universidade Braz Cubas (UBC). “A comodidade do digital é imensa. É lógico que tem o revés, de algumas pessoas que usam as redes sociais para coisas que não são legais, mas quem não tem acesso ao mundo digital hoje é um desprivilegiado”, acrescenta.

A ampliação da cobertura digital na Cidade tem, também, outro objetivo: a segurança. Nos locais sem rede digital não é possível ter controle semafórico e, principalmente, o monitoramento por câmeras, tecnologia cada vez mais usada no combate ao crime. E a zona rural é, sabidamente, um dos principais alvos dos bandidos, justamente pela dificuldade de acionar a Polícia.

“A gente precisa disso. Eu mesmo tenho câmeras no sítio, mas não temos como transmitir as imagens pela Internet para que a Polícia possa monitorar”, finaliza Sakamoto, o produtor do Bairro do Itapeti. 
(Mara Flôres)

Carlos Sakamoto relata as dificuldades para conexão mesmo com
 o sistema de rádio no Itapeti / Foto Eisner Soares

Fonte: Diário de Mogi - 04/02/2013


Ferraz quer vacinar 5 mil garotas contra o HPV