Consumidores do Alto Tietê gastam mais do que recebem, diz pesquisa
Consumidores do Alto Tietê gastam mais do que recebem, diz pesquisa
Quase 40% dos entrevistados não têm controle financeiro.
Estudo analisou perfil de consumidores de Poá, Mogi das Cruzes e Suzano.
![]() |
Jovens do Alto Tietê não conseguem equilibrar dinheiro e despesas (Foto: Gladys Peixoto/G1) |
O estudo, realizado em maio deste ano pela unidade de Suzano, analisou o perfil de consumidores de shoppings e centros comerciais de Mogi das Cruzes, Poá e Suzano. Ao todo 165 pessoas foram entrevistadas. Quase 40% delas afirmaram ter gastado mais do que receberam nos três primeiros meses de 2014.
De acordo com a pesquisa, consumidores sem ensino superior têm mais dificuldades para manter o controle financeiro. O objetivo da pesquisa foi traçar um perfil do endividamento da população da região. Segundo o professor, Fábio Nazareno Machado da Silva, responsável pela análise, a falta de educação financeira é apontada como o principal motivo para esse descontrole. "A ausência de educação financeira desde a infância faz com que estes jovens tenham que aprender a poupar somente após sofrer as consequências geradas pela restrição de crédito por inadimplência", explica.
Curta nossa página no Facebook:
Um dos vilões para o endividamento, segundo o estudo, são os cartões de crédito. 69,23% das pessoas que parcelam suas compras em mais de seis vezes são as que gastam
mais do que ganham. A professora de Mogi das Cruzes, Natália Menecucci da Silva, sabe bem como é ser inadimplente. Aos 20 anos, a educadora já estourou o limite dos cartões de crédito e usou o cheque especial várias vezes. Natália gastava bem além do que tinha. As dívidas chegaram a ultrapassar 30% do salário dela. Há cinco meses, ela resolveu mudar a situação. "Agora eu estou controlando um pouco mais. Eu percebi que recebia para pagar contas. Pagava contas e não sobrava nada. Foi quando eu percebi que algo estava errado. Paguei muitos juros já e tive até que parcelar faturas de cartão".
Para conseguir segurar o impulso, a professora conta que teve que ser radical. Cancelou dois cartões de loja e ficou com apenas um de crédito. "O jeito foi parar de gastar até estabilizar e pagar todas as dívidas. Foi bem difícil. Agora compro as coisas no crédito, mas marco em um caderninho para eu me organizar melhor. Isso ajuda a controlar. Mesmo assim prefiro comprar mais à vista", conta.
Apesar de já ter tido problemas em controlar os gastos, Natália diz que sempre teve uma boa educação financeira em casa. "Desde pequena tive orientação sobre isso. Fora isso, desde os 18 anos assistia vídeos de orientação financeira com economistas dando dicas. O problema é que sou um pouco impulsiva", diz sorrindo. "Mas uma hora a gente aprende. Depois de ouvir os conselhos dos meus pais resolvi parar de gastar e começar a poupar dinheiro", revela a professora.
Perfil
Apenas 18,19% das pessoas com ensino superior gastam mais do que ganham. Em média 45,45% gastam menos do que recebem no mês. "A escolaridade ainda é o que mais influencia a renda da população. 63,64% das pessoas que têm nível superior ganham mais de quatro salários mínimos e é essa parcela que consegue no final do mês ainda guardar dinheiro", declara Silva.
A maior parte dos consumidores de shoppings (74%) ganha em média mais de R$ 2,8 mil, ou seja quatro salários mínimos. O nível de dívidas entre jovens com até 18 anos também é grande - 46,16% gastam mais do que ganham. Esse número só começa a diminuir consideravelmente depois dos 40 anos. "É possível concluir que quanto menor a idade, maior o descontrole financeiro. 84,62% dos entrevistados com até 18 anos e que têm renda própria declaram gastar todo ou até mais do que os seus rendimentos mensais", diz Silva. Apenas 15,38% dos jovens com até 18 anos gastam menos do que ganham.
Outro dado interessante da região é que 59% dos consumidores preferem pagar suas compras sem parcelamentos. Ainda de acordo com pesquisa, 55% das pessoas preferem pagar suas compras com cartão de débito ou crédito.
A compra por impulso e o endividamento excessivo são problemas enfrentados há tempos pela radialista Camila Francini, de 25 anos. Moradora de Poá ela confessa ser uma apaixonada por compras, especialmente de roupas e sapatos. "Dificilmente consigo dizer não para compras em geral! O meu maior gasto é sempre com roupas, mas não resisto também as bolsas e acessórios".
A radialista, que ganha o próprio dinheiro há sete anos, confessa que nunca soube controlar os gastos. "Até mesmo antes de trabalhar, não controlava o dinheiro que recebia da minha mãe. Sempre pensei: “mais R$100 não vai mudar em muita coisa” – e assim, fiz dívidas enormes em lojas", revela. "Não tive nenhuma noção de educação financeira e hoje tento sozinha sair das armadilhas dos gastos. É difícil. Já tentei muitas vezes e sempre acabo não sabendo como lidar com meu dinheiro".
O consumismo de Camila fez com que a radialista procurasse ajuda para diminuir a impulsividade pelas "compras". "Faço terapia há alguns meses para tentar diminuir as necessidades que crio. São necessidades que, quase sempre, não são verídicas, e fazem com que eu ultrapasse o limite do cartão. A verdade é que tenho tanta roupa, tanto sapato, que muitas das minhas peças ainda estão com etiquetas. Outras, foram usadas pouquíssimas vezes", conta. "Sempre que tenho um dinheiro guardado, acabo achando uma nova necessidade e gastando tudo o que poupei. Por isso hoje não uso mais cartões de crédito e nem tenho cheque especial no banco".
Carolina Paes e Tatiane SantosDo G1 de Mogi das Cruzes e Suzano - 28/07/2014