41 pessoas se tratam atualmente de hanseníase no Alto Tietê
41 pessoas se tratam atualmente de hanseníase no Alto Tietê
Números da doença caíram de 43 em 2012 para 38 em 2013.
Tratamento leva de 6 a 24 meses; Mogi lidera os casos registrados.
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A hanseníase é caracterizada por manchas na pele que não coçam, doem ou suam. Tratamento é feito em postos e centros de saúde. (Foto: Rodolfo Toshio Tagawa/ Arquivo Pessoal) |
A doença é transmitida pelo ar e já teve status de peste. Com citações existentes na Bíblia, não há certeza sobre como ela começou e qual a sua origem. Para o coordenador do Programa de Hanseníase da Prefeitura de Mogi das Cruzes, Rodolfo Toshio Tagawa, ainda hoje a doença é vista com preconceito e tratada como sinônimo de vergonha até mesmo por parte dos doentes. “As pessoas são muito preconceituosas. Uma vez uma mulher foi vista pelo patrão quando saía daqui da unidade onde realizamos o tratamento e acabou demitida. Outro problema ocorre com o próprio paciente. Posso dizer que em 99,9% dos casos, a pessoa não conta para ninguém que está doente. Já houve casos de pai e filho que se encontraram aqui em dia de consulta e que somente aí descobriram um a doença do outro”, diz. Há acompanhamento psicológico quando a descoberta da doença causa problemas como depressão nos pacientes.
Segundo o médico, a bactéria Mycobacterium leprae demora em média 5 anos para fazer aparecer os sintomas – manchas na pele que não coçam, apresentam dores e nem mesmo suam. Há dois tipos básicos da doença: paucibacilar, com baixa representação de bacilos, e multibacilar, com uma carga mais alta e que costuma se apresentar com seis ou mais manchas no corpo do paciente.
“O ideal é a gente fazer o diagnóstico no começo para não dar deformidade. A doença para aparecer ela demora pelo menos uns cinco anos. Daí em diante tem casos de até de dez anos de demora para a pessoa descobrir a doença, isso quando ela tem uma reação mais forte. Geralmente a mancha é vista como uma mancha no corpo apenas”, diz.
Descoberta
Aos 56 anos, o aposentado José Edson de Oliveira é um dos pacientes que se tratam na Unidade de Atenção aos Programas de Saúde de Mogi das Cruzes. Ele descobriu a doença há três anos e meio, após ver uma reportagem que alertava sobre hanseníase e decidir investigar uma mancha que tinha no braço direito.
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Medicação utilizada no tratamento da hanseníase, a chamada poliquimioterapia é composta pelas cartelas vermelha, para um ano de medicação, e verde, o período de seis meses. (Foto: Willian Almeida / G1) |
Para José, a hanseníase nunca chegou a ser considerada um bicho de sete cabeças. Pelo contrário: sobrevivente de uma descarga elétrica de 13 mil volts, em 1990, quando encostou em um fio de alta tensão enquanto trabalhava, ele fala do tratamento de maneira até bem humorada, apesar de revelar que pôde sentir o preconceito que há no tocante à doença.
"Eu sabia que seria difícil para mim, mas eu não posso evitar o que já aconteceu, entende? Na verdade eu não sou muito apavorado porque já vivi muitas coisas. Sabia que era algo grave, mas tive o apoio da minha família o tempo todo e isso faz uma diferença enorme. Agora, as pessoas conhecem a lepra [como é popularmente conhecida a doença], mas não sabem o que é hanseníase. Então, você chega e conta para alguém que tem hanseníase e escuta coisas como 'vai passar rápido' e 'você tira de letra'. Mas quando eu explico o que é a deonça, a pessoa arregala os olhos e fica toda preocupada, querendo saber. Quando sabem que é transmitida pelo ar então, aí que fica apavorada mesmo", conta.
Sobre os efeitos psicológicos que a descoberta da doença pode trazer, ele é direto. "A mim não afetou em nada, mas de uma forma geral eu sei que assuta. Acho que a coisa tem que ser tratada diretamente com a família, porque ela ajuda muito".
O aposentado tomou a chamada poliquimioterapia por um ano e ainda utiliza medicação quando ocorre algum tipo de manifestação da bactéria.
Dados da doença
Em 2013, 38 pessoas foram diagnosticadas com a doença na região, cinco a menos que no ano anterior. Somente Guararema e Salesópolis não registraram casos da doença nos dois anos avaliados. Mogi lidera o ranking.
Em Arujá, o tratamento é realizado no Centro de Saúde II, na Avenida dos Expedicionários, 1255, no Centro. Um paciente realiza tratamento atualmente na cidade, com acompanhamento semanal de um dermatologista.
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A Unidade de Atendimento aos Programas Sociais é o local onde ocorre o tratamento da doença em Mogi das Cruzes (SP). (Foto: Willian Almeida/G1) |
Em Ferraz de Vasconcelos, quatro pacientes recebem os cuidados médicos oferecidos pelo Serviço de Assistência Especializada (SAE) da Secretaria Municipal de Saúde. O tempo de tratamento varia de 6 a 24 meses.
Os nove hansenianos de Itaquaquecetuba recebem tratamento no Centro de Saúde II, na Praça Padre João Alvarez, 38, Centro. Seis pessoas estão em fase de tratamento no SAE de Poá, além de duas em Santa Isabel, na Unidade Básica de Saúde Ilário Dassiê, e quatro em Suzano, cidade que recebe seus pacientes no Ambulatório de Especialidades e também realiza atendimentos residenciais quando o doente falta a consultas agendadas.
Mogi das Cruzes
Quinze hansenianos fazem tratamento atualmente na Unidade de Atenção aos Programas de Saúde de Mogi das Cruzes, sob a coordenação do médico Rodolfo Toshio Tagawa. No Alto Tietê, o município lidera os casos de pessoas infectadas pela Mycobacterium leprae e realiza o atendimento, que pode variar de 6 a 12 meses, com consultas a cada 28 dias.
Os hansenianos da cidade são medicados com a poliquimioterapia, composta pelos medicamentos rifampicina, dapsona e clofazimina. O tipo de medicamento varia de acordo com a doença. As cartelas são fornecidas pela Organização Mundial da Saúde e são divididas pelas cores verde e vermelha – esta para casos multibacilares. Cada uma delas contém a medicação adequada para o tempo de tratamento.
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Rodolfo Tagawa coordena o tratamento da doença em Mogi das Cruzes. Para ele, a população precisa saber mais. (Foto: Willian Almeida / G1) |
Como segundo o médico não há hospitais de referência para o tratamento da hanseníase na região, os casos que inspiram cuidados maiores são encaminhados para o Complexo Hospitalar Padre Bento, em Guarulhos, ou para Bauru, que conta com um hospital referência em pesquisa da doença.
Sobre o número de pessoas doentes no município, Tagawa faz dois apontamentos. “[13 casos por ano] é a média, mas tem muito mais, certamente, porque muita gente nem sabe que a hanseníase existe – popularmente é chamada de lepra – em função da mudança do nome. E além disso, as pessoas que possuem algum tipo de mancha na pele só acabam procurando o médico quando a coisa começa a ficar feia”, conclui.
Orientação
As secretarias orientam que os cidadãos que percebam os sintomas da doença procurem o postos de saúde mais próximo para receber orientações e, dependendo do caso, ser encaminhados a unidades especializadas.
Sobre o número de pessoas doentes no município, Tagawa faz dois apontamentos. “[13 casos por ano] é a média, mas tem muito mais, certamente, porque muita gente nem sabe que a hanseníase existe – popularmente é chamada de lepra – em função da mudança do nome. E além disso, as pessoas que possuem algum tipo de mancha na pele só acabam procurando o médico quando a coisa começa a ficar feia”, conclui.
Orientação
As secretarias orientam que os cidadãos que percebam os sintomas da doença procurem o postos de saúde mais próximo para receber orientações e, dependendo do caso, ser encaminhados a unidades especializadas.
Willian AlmeidaDo G1 Mogi das Cruzes e Suzano - 27/01/2014
MUNICÍPIO | 2012 | 2013 | EM TRATAMENTO |
ARUJÁ | NENHUM | 1 | 1 |
BIRITIBA MIRIM | 3 | 3 | Não informado |
FERRAZ DE VASCONCELOS | 4 | 4 | 4 |
ITAQUAQUECETUBA | 9 | 7 | 9 |
MOGI DAS CRUZES | 12 | 13 | 15 |
POÁ | 5 | 4 | 6 |
SANTA ISABEL | NENHUM | 2 | 2 |
SUZANO | 10 | 4 | 4 |
TOTAL | 43 | 38 | 41 |
Fonte: Secretarias Municipais de Saúde *Guararema e Salesópolis não registraram casos de hanseníase em 2012 e 2013. |